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Futebol: casas de apostas e manipulação de resultados no Brasileirão de 2022

Atualizado: 23 de mai. de 2023

Por Laura Marcello


Casas de apostas englobam outras modalidades além do futebol (Crédito: Reprodução)


Nas últimas semanas, o futebol tem sido alvo de polêmicas envolvendo manipulação de resultados de partidas da Série A do Campeonato Brasileiro de 2022. A Operação Penalidade Máxima II, do Ministério Público de Goiás, segue investigando jogadores e quadrilhas comprometidas com casa de apostas. Empresas essas, registradas para aceitar apostas dos clientes na previsão de um certo acontecimento (como gol, escanteio, cartões amarelos ou vermelhos, etc) e com o potencial lucro calculado com base nas probabilidades oferecidas por essa casa de apostas para esse acontecimento (conhecidas como odds).


A Operação está investigando atletas e quadrilhas que ganhavam dinheiro para cometerem lances específicos dentro dos jogos e até prejudicarem a própria equipe. O movimento iniciou em Goiás pois o presidente do Vila Nova-GO, Hugo Jorge Bravo, que também é policial militar, ouviu denúncias que o volante Romário, do clube, teria aceitado dinheiro para cometer um pênalti em um confronto pela Série B do Brasileirão. Desde então, o Ministério Público do estado tem conseguido ligar a máfia a outros atletas e esquemas, chegando em jogos manipulados na elite da Série A.


Na última nota do MPGO no site sobre o caso, eles informam que foram 16 pessoas denunciadas e que são 13 duelos investigado (8 pela Série A e 1 pela Série B em 2022 e 4 por estaduais em 2023). Entre os apostadores e membros da organização criminosa: Bruno Lopez de Moura, Ícaro Fernando Calixto dos Santos, Luís Felipe Rodrigues de Castro, Victor Yamasaki Fernandes, Zildo Peixoto Neto, Thiago Chambó Andrade, Romário Hugo dos Santos, William de Oliveira Souza e Pedro Gama dos Santos Júnior. Entre os jogadores: Eduardo Bauermann (Santos), Gabriel Tota (Ypiranga-RS), Victor Ramos (Chapecoense), Igor Cariús (Sport), Paulo Miranda (Náutico), Fernando Neto (São Bernardo) e Matheus Gomes (Sergipe). Os atletas Vitor Mendes (Fluminense), Richard (Cruzeiro), Nino Paraíba (América-MG), Dadá Belmonte (América-MG), Kevin Lomonaco (Red Bull Bragantino), Moraes Jr. (Juventude), Nikolas Farias (Novo Hamburgo), Jarro Pedroso (Inter de Santa Maria), Nathan (Grêmio), Pedrinho (Athletico-PR) e Bryan García (Athletico-PR) também tiveram seus nomes citados no processo.



Casas de apostas têm patrocinado atletas, clubes e torneios (Crédito: Reprodução)


O gestor desportivo, Felipe Ferreira, contou como o departamento de futebol deve agir em situações como esta. O profissional passou por uma situação parecida quando estava a frente do Grêmio Barueri há sete anos.


"No futebol e no esporte como um todo, sempre teve casos de manipulações. Quando eu era executivo do Grêmio Barueri, na Série A3 do Paulista, em 2016, as casas de apostas ainda estavam começando, mas já haviam questões como de cartões e goleadas. Nessa competição, foi descoberto e divulgado um caso. Diante dos primeiros indícios, na ocasião, o Mauro, presidente do sindicato dos atletas, que já estava trabalhando junto a Interpol auxiliando nas investigações para diminuir o impacto das apostas, foi chamado por nós. Reunimos todos os atletas profissionais e de base, treinadores, preparadores e fizemos uma série de encontros demonstrando o que está acontecendo, as implicações e sobre o perigo de se envolver com máfias criminosas. No clube, éramos fortalecidos e tentamos nos blindar ao máximo com isso. É importante os clubes, principalmente de Série A, ter essa organização e, muitas vezes, não tem. Existe mecanismos para tentar diminuir esse risco, há uma necessidade dos clubes se estruturarem à respeito não só de apostas, mas de outros problemas. Mecanismos e processos podem evitar tais esquemas, muita orientação. Os profissionais e o departamento precisam estar preparados e caso não, eles facilitam a entrada dessas pessoas", afirmou.


"Outro passo que eu tomaria é começar desde a base e ressalto a importância de comtemplar todas as categorias. Base, profissional masculino e feminino. Na base, por exemplo, eles ganham pouco e as dificuldade são grandes assim como no feminino. No masculino, é necessário e importante verificar o perfil do atleta que você está contratando, colher informações. Eles podem trazer contatos e situações de apostas na carreira. É preciso estudar, orientar, estar presente e fortalecer o dia a dia. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) também deveria se atentar a arbitragem, assim como federações, clubes e emissoras de televisão. Todos devem se atentar à essas questões e precisam ser trabalhadas. No entanto, não vemos isso. Clubes, atletas e competições sendo patrocinadas por casas de apostas. Vejo uma relação antagônica em profissionais e veículos que incentivam propagandas de casa de apostas. A indústria como todo agiu e não fez. Precisa se atentar a toda a cadeia. Não só as casas de apostas, isso vem de anos", completou.



Torcida do Santos repudiou a ação do zagueiro Bauermann (Crédito: Raul Baretta/Santos FC)


Gabriel Zanardi, torcedor do Santos, comentou sobre o fato de apostar entre amigos e lamentou o caso do zagueiro Eduardo Bauermann, da equipe, um dos investigados pela operação. O defensor teve seu contrato suspenso pelo Peixe de forma preventiva.


"É divertido ganhar dinheiro, mas quando perde fico bravo. Acho bacana pois ajuda a reforçar minha análise no futebol, tenho amigos que apostam há um tempo e são experientes nisso. Inclusive, com o dinheiro conquistado pelas apostas consegue bancar uma viagem para acompanhar seu time em jogos fora de casa. Depende muito das odds, por exemplo em um Boca Juniors e River Plate, por ser um clássico argentino inflamado, a possibilidade de cartão ou expulsão é alta. Visando o valor da odd, vale a pena fazer alguma aposta referente à isso. Não ganho a vida com apostas, faço por diversão e com consciência. Diferente de vários relatos na internet, algumas pessoas apostam o que não tem a troco de uma incerteza. Se eu fosse dar alguma dica, seria para apostar com consciência e responsabilidade", comentou Gabriel.


"É absurdo que um atleta que receba um salário de cerca de R$ 250 mil se submeta a uma sujeira dessas. É lamentável ver que não há amor ou respeito pela camisa que amamos, chegando a tal ponto de aceitar prejudicar o próprio time e os companheiros do elenco", completou.



Clubes se blindam na justiça em relação aos contratos dos atletas denunciados (Crédito: Getty Images)


Gustavo Rodrigues Véras, advogado e membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB Butantã, explicou o que poderia acontecer caso os clubes tomassem alguma medida mais séria ainda quando o nome de seus atletas haviam sido apenas citados.


"Considerando a repercussão do caso, se o clube optasse por afastar o atleta anteriormente, e ele sentisse sua honra ferida, ele poderia pedir a rescisão indireta, que na Consolidação das Leis Trabalhistas se encontra no artigo 483, item e), onde se diz ‘O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama’. Caso houvesse a rescisão indireta, haveria o rompimento do vínculo com o jogador e o clube deveria arcar com todos os seus vencimentos. Com a divulgação dos diálogos, a situação mudou e uma demissão por justa causa torna-se justificável", avaliou.


Diante dos novos desdobramentos da investigação, Gustavo vê possibilidade de aumentar os passos das providências. No entanto, é necessário agir com postura pela situação e não colocar o atleta como culpado, sempre reforçando que aguarda a decisão da justiça.


"É justificável, a meu ver, a demissão do zagueiro por justa causa. A CLT aponta como justa causa a incontinência de conduta, o que no caso de um atleta de futebol, é possível enquadrar ao envolvimento neste nível em um caso de manipulação de resultados. Além disso o artigo 35 da ‘Lei Pelé’ aponta como dever do atleta profissional ‘exercitar a atividade desportiva profissional de acordo com as regras da respectiva modalidade desportiva e as normas que regem a disciplina e a ética desportivas", falou.

 
 
 

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